sábado, 4 de agosto de 2007

Sofia e seus 123 dias

Em Maio de 2004, eu recebi a feliz notícia de uma gravidez muito esperada. Foi maravilhoso pois eu seria mãe. Logo começaram os preparativos para a vinda do bebê. Os exames de ultrasonografia foram marcados e ai veio a ansiedade de saber se era menina ou menino.

Com 3 meses de gestação, eu fui à consulta e recebi a notícia de que teria uma menina, mas no mesmo dia, também recebi a notícia de meu bebê era anencéfalo.

Eu não tinha conhecimento nenhum sobre o que era Anencefalia, apenas a informação do médico de que meu bebê não sobreviveria após o parto. Foi desesperador. Não sabia o que responder. Foi difícil naquele dia chuvoso e frio. Eu já tinha comprado algumas coisas para meu bebê como a banheira, o berço, o livro do bebê, babador e sapatinhos. E agora ? Como falar para meus familiares e colegas que já sabiam da gravidez ?

Cheguei em casa e acessei a internet. Pesquisei sites nacionais e internacionais a fim de obter informações sobre um assunto que a gente pensa que nunca vai acontecer com você. Bem, estudei, li, encontrei algumas fotos de outros bebês com a mesma má formação congênita. Ficava pensando se era assim que minha Sofia iria nascer. Mas, ao mesmo tempo, eu ficava muito triste pois não teria tempo de pegá-la nos braços, de tirar fotos com ela, de beijá-la, de ver seus pés e suas mãos.

Parei, pedi muito a ajuda de Deus para iluminar meus pensamentos, para que eu tivesse forças para vencer.

Montei um enxoval rosa e branco para ela, com uma roupa especial para ela vestir no momento da sua partida. Era um lindo macacão branco, com uma ovelhinha bordada.

Passaram-se os 9 meses e o dia de seu nascimento chegou. Era um dia muito quente de verão, Fevereiro de 2005. E às 14:00 hs o seu chorinho de recém-nascido, soou na sala de parto. As enfermeiras logo a pegaram, fizeram os procedimentos médicos, colocaram-na no bercinho aquecido com oxigênio e ai ela parou de chorar. Depois, uma das enfermeiras colocou-a perto do meu rosto e eu disse: Oi Sofia, eu sou sua mamãe. Naquele momento eu senti algo mais. Senti que eu teria tempo para pegá-la nos braços e tirar algumas fotos.

Sofia nasceu com 45 cm e pesando 2500g. Ela ficou na encubadora e eu voltei para casa depois de 2 dias, de mãos vazias.

Eu a visitava todos os dias no hospital. Tinha saudades, era gostoso pegar na sua mão. Quando eu chegava para vê-la, sentia que ela se mexia bastante, ela também sabia que eu estava lá. Esse período durou 17 dias, até que os médicos decidiram que eu poderia cuidar dela se ficássemos juntas num quarto do hospital. Eu cuidando dela 24 horas, mas com supervisão médica.

Aprendi a trocar a fralda, dar o leite pela sonda (pois ela não sabia engolir), aprendi a fazer o curativo (pois parte do cérebro fica exposto ao ar e precisa de cuidados especiais). Esse período durou 2 meses até que eu pedi para o hospital, que deixasse eu a levar para casa pois eu tinha aprendido todos os procedimentos e afinal de contas, o quartinho dela e a casa dela estava esperando por ela.

Levei-a para casa mas ainda com supervisão médica. Médicos, enfermeiras e a assistente social vinham semanalmente na minha casa para examinar a Sofia. Sempre recebia elogios.

Durante esses 2 meses que ficamos em casa, a Sofia cresceu, engordou, precisou até de roupas novas. Nós ficávamos juntas o dia todo. Eu contava estórias, cantava, ligava o CD com músicas clássicas e músicas de piano. Ela adorava, relaxava e sentia feliz. Na hora do banho, conversávamos bastante pois eu ia contanto para ela tudo o que fazia (agora vamos passar o sabonete, agora vamos enxugar as mãos). Era maravilhoso. Ela sorria e esticava as mãos para mim pedindo colo. Eu pegava-a no colo, abraçava e beijava sua mãos.

Tiramos umas 300 fotos. Uma de cada momento. Pintei seus pés com tinta guache e marquei papéis e toalhas. Ela sentiu cócegas nesse dia quando mexi nos seus pés.

São lembranças que vou guardar para o resto da minha vida.

O mês de Junho se aproximava e meu aniversário também. Eu pedi à Sofia que ficasse comigo no meu aniversário pois era a primeira vez que eu iria apagar as velinhas com minha filha. Ela ficou. Foi uma festa pequena mas muito legal. Sofia até cortou o bolo comigo.

No final de Junho de 2005, eu sentia que a Sofia estava enfraquecendo. Sua respiração estava mais leve. Ela já não estava mais ativa como antes. Tenho certeza que ela só estava esperando passar a data do meu aniversário para partir.

No seu penúltimo dia ela começou a chorar, lágrimas corriam pelo seu rosto e eu pedia a Deus para dar-me forças pois sua hora estava chegando. Ela chorou muito e eu então, começei a conversar com ela, dizia para Sofia que se a sua hora estava chegando, ela deveria ir para perto do papai do céu, pois a mamãe ia ficar bem. Eu cuidei tanto dela, dei tanto amor, que não poderia ficar triste.

Assim, depois de 123 dias, Sofia foi embora. E o que me deixa mais feliz, é que nesse momento de sua passagem, ela estava comigo. Ela estava no meu colo. Com a sua mamãe.

ENGLISH VERSION

In May 2004, I received the notice of my pregnancy. It was wonderful because I am going to be a mother. As soon as I received this notice, I started to prepare the things to receive my baby. I did the necessary exam expecting to be a boy or a girl.

In 3 months running, I could see that it will be a girl. But, other thing was found out during the examination, the diagnosis of anencephaly.

I didnt know anything what anencephaly was, I only knew that my baby will not survive after the delivery. Life expectancyfor a baby is hours. I was desparated. It was very difficult. The weather was cold and rain. I had already had bought some things like the bath, the cradle, a baby book, the bib, wool shoes, etc..What am I going to do now ? What am I going to say to my family and friends ?

I got to my nest and access the Internet finding out lots of things about Anencephaly Babies. I access local and international sites about a thing that I never imagine that will happen with me. Fortunatly, it was a confort for me. I found lots of families that had a baby with this congenital birth defect. I deeply read it. It is a neural tube defect, just as is spina bifida. I also saw some pictures, imagining if Sofia will be born like that babies. But what I was really worried about was the fact that I would have time to take her in my arms, to take some pictures of her, kiss her and touch her hands and her feet. I completly changed my way of thing.

I pray for Good in order to give me help, to enlighten my thoughts. I pray for being a winner.The time with her will be so precious that I shouldn’t have to waste time.

I prepared a pink and white clothes with a special one that she will dress during her farewell. A wonderful white body with a sheep painted on it.

After 9 months (35 weeks), the delivery day was up. It was a lovely sunny day. It was summer. February 2005. It was 14:00 hs when I heard her crying. Immediatly, the doctors started the first aids, taking her to the warm cradle, turning on the oxigen. She stoped to cry. After that, the nurse put her very close to my face and then I told her: Hi Sofia, I am your mother !! That time, I felt something different. I felt that I will have time to take her in my arms and take some pictures.

Sofia was born with 45 centimetres and 45 Kg. She stayed in a special cradle that night and after 2 days, I returned home with my bag. Sofia stayed at the hospital.

I visited her at the hospital every day. It was wonderful to take her little hands and talk to her. I told her what I had done during the day, news. When I stayed near her I felt that her felt the same. She moved her body a lot. She knew that I was there. This period was off after 17 days when the doctors and the hospital decided that I could stay with my baby in a private room at the hospital. I will also have a medical support.

I learnt how to change the diaper, to feed her by a tube fed, she didnt know how to swallow. I learnt how to care for her head. I needed a special oil and a special gauze. This perido was over after 2 months when I asked to the hospital to take my baby to home. I had already learnt how to do the care for her head, how to feed her, the bath, etc.After all, her home and her room were waiting for her.

Sofia was 2 months when she went home. Even so, I was still with doctors support. Weekly, a psycologist, assistant, nurse and doctor came to my home. They were impressed with my dedication and with Sofia behaviour.

During 2 months, Sofia stayed at home, got weight (she needed new clothes), played with her family. I took about 300 pictures, told her stories, sang music. She loved classical music and piano music. I took her in my arms and I could feel that. I painted her feet and press in papers and towels.During her bath, I told her what I was doing (take the soap, a little water..) I knew that she felt confortable. She put her arms ahead asking for rug, I took her against my chest and stayed together.

It was the most precious memory that I will never forget.

June was coming, and my birthday too. I just asked Sofia to stay with me in my birthday party. She did. We blowed the candles together.

One day before she gone, she started to cry a lot. I felt that the time together was ending. I prayed for God support me that time. At the same time, I told Sofia if that was the time, she had never to feel. She became quiet, quiet, calming down. I had gave her so much love that she had nothing to worried about.

So, after 123 days she passed way. She was with me. Her mother.

17 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Patrícia.

Se antes acreditava no direito à vida destas crianças anencéfalas e em defendê-lo, agora sim, que me encontro mais convicta disto. Adorei, conhecer sua história e da Sofia. Obrigada e Parabéns.
Elisabeth Cavalcanti

Anônimo disse...

Nunca nada me emocionou tanto assim. Sua história e de Sofia me fizeram reviver o nascimento do meu filho, me tocou muito mais ainda qdo me lembrei das broncas ou de qdo não tive tempo ou paciencia pra brincar ou escutá-lo. É realmente uma lição de vida pra todos nós.
Agradeço por nos contar sua linda história. Parabéns.
Paula Rodrigues - Ouro Preto/MG

Anônimo disse...

vc e especial por gerar sofia ,ela te escolheu pois sabia que vc respeitaria sua vida,eu tambem tive uma filha anencefala,faz dois meses que se foi + sera eterna em meu coraçao,todos os dias penso nela, sinto uma mistura de sentimentos quando penso nela,as vezes choro ,e muitas vezes dou risadas quando lembro dela mexendo.deus e fiel ,gostaria de saber se vc teve outro filho depois de sofia?me responda,meu msn andreia_bzao@hotmail.com .

Anônimo disse...

Oi !Patrícia
ao ler sua história e de Sofia,me fizeram chorar e reviver a minha tb;vocês foram mais do que 2 VENCEDORAS.DEUS nos escolheu para conceber seus anjos e ama-los ETERNAMENTE... Parabèns por esta missâo tão grd.E tenha certeza de que nossos lindos bebês estão de lá nos olhando e nos ajudando a sermos fortes Dia após Dia...
Um forte beijo.

Anônimo disse...

OI,Patrícia
Ao ler sua história e de Sofia,fiquei muito emocionada e me fez chorar de alegria.Vocês foram Vencedoras,ela é um anjo que DEUS lhe deu; parabéns por ter sido guerreira e uma super MÃE...
Eu tb tive uma bb linda mais ela se foi ao 5 mês de gestaçâo mais mesmo assim tive em minhas mãos por um tempo e estas lembranças me fazem aliviar um pouco a minha dor e sempre eu AMAREI ETERNAMENTE.Se for possível me responda email deborabaraujo@terra.com.br obrigada.
Um grande abraço.PARABÉNS

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Oi Patricia...
Há poucas horas sepultei meu sobrinho que nasceu com o mesmo diagnóstico da sua filha, ele ainda possuia má formaçoes nos pés e mãos ,e lábios leporinos, ele viveu 28 horas, mas como lutou... sentiamos que ele buscava forças para atender ao pedido de minha irmã que era que ele esperasse passar a anestesia da cesaria para que ela pudesse pega-lo no colo...
Assim como sua filha, ele faleceu nos braços dela, quando ela falou para ele que iria ficar bem, e que ele podi ir para o papai do céu... então ele deu o seu último suspiro e se foi...Na hora do sepultamento coloquei o primeiro bichinho de pelucia que ele havia ganhado e alguns carrinhos...ficou tudo muito lindo!!!
Eu como mãe que sou, acredito que qualquer bebê tem o direito de nascer, mesmo que ele tenha qualquer problema de saude e nem que seja para viver por poucas horas, mas que eles possam viver o tempo que Deus determinou...
Fique em paz

Anônimo disse...

Oi Patrícia, parabéns pela Sofia.
Eu tbm tive um bebê anencéfalo, Milena, linda, linda!!!!!!
Mila viveu 4 dias, foram os dias mais preciosos da minha vida.
Depois queria contar a minha história e deixar uma fotinha dela.
bjs
karina

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

28 de Abril de 2008

Olá Patricia.

EStou lendo sua história e muito me comovi, pois há sete dias recebi a noticia de que meu bb tb é anencéfalo, fiquei muito chocada pois depois de minha 1 filha q ta com 11 anos já o aguardava há 4 anos, mas agora vejo q Deus nos escolheu p/ cumprir uma missão.

Obrigada me responda.

Rosangela Patricio
email; ropatryc@yahoo.com.br

Unknown disse...

Oi Patricia,

Olha sou estudante de enfermagem, e farei meu projeto de pesquisa com enfoque nos conflitos vividos por mães gestantes de crianças anencefalas...mas n faço por fazer, faço com um proposito que Deus me colocou ...
Fiquei muito comovida com sua história....

A Sófia foi uma benção...

E com certeza baseada na vida, nos ensinamentos de Cristo e de vivencias como a sua que eu concordo com deixa-la viver...até qdo Deus disser q sim...

Fica com Deus...
Se quiser meu e-mail é luanavieira2@hotmail.com

Ficaria muito grata de saber um pouco sobre a sua vivência...

Bjus

Anônimo disse...

Acredito que todos tem o direito de nascer, mesmo que sua vida dure alguns segundos... achei linda a sua historia e um exemplo para aquele que acham que aborto e a melhor opção para tudo....

Carolina Ribeiro disse...

Oi Patrícia!

Recebi o link do seu blog de uma amiga.. Sempre fui a favor de deixar todos os bebês nascerem.. independente de qualquer coisa e até mesmo bebês anecéfalos, pois todos tem direito a vida!
E conhecendo a sua história a minha opinião se torna ainda mais forte, pois agora eu sei que bebês como a Sofia podem e devem ser felizes conosco independente do tempo que eles fiquem conosco!
Que Deus a abençoe e a toda sua família!!!!!

Unknown disse...

oi quero que saiba que achei linda a sua história,isso tambem aconteceu comigo só que eu não tie forças para continuar a gestaçao a diante hoje me arrependo miuto,imterronpie a gravidez com 6 meses de gestsção,quase morrie eu nã tinha forças pra nada pedia a deus todos os dias a morte pra mim tudo tinha acabado,so´deus sabe o quanto eu queria aquele bebÊ,até hoje sofro muito com isso peso na consciencia que me acompanhará pelo resto da minha vida!

izabel disse...

Querida Patricia,
Parabéns pela sua determinação.Eu sou mãe de tres filhos normais,2 netinhos e agora esperando o terceiro netinho (Luca)veio a triste notícia.Estou sem chão, amo meu netinho e sofro com a falta que ele vai fazer.Por decisão dos pais a gravidez será interrompida (ele está com 5 meses).Espero poder ve-lo.A mãe quer ve-lo também e ontem comprei uma touquinha (o enxoval é grande)para colocar na cabecinha.Ah querida é muito doido.Mas esse fato me despertou para criar uma instituição de apoio para mães de bebes anencéfalos.O que você acha?Seria pertinente?um grande abraço

ana costa disse...

Patricia,
Voce é abençoada, Deus certamente te espera de braços abertos.
Divulgue sua historia ,pois grande é a ignorância do homem e só com gestos de amor incondicional como o seu poderemos transformar este mundo em mundo melhor.
Seja feliz!

Joana disse...

Querida Patricia,

Parabéns por sua linda filha, por seu amor incondicional e dedicação em cuidar dela com tanta entrega e carinho durante o tempo que Deus determinou, e por tê-la entregue nos braços de Deus com tanta paz.

Obrigada por compartilhar sua história, que certamente tem servido de inspiração e encorajamento a muitas outras mamães.

Gostaria muito de manter contato com você, e de divulgar a linda história da Sofia no blog da Vitória, que nasceu com anencefalia incompleta e está com mais de um ano de vida.

Pois histórias como a de nosssas filhas podem ajudar o mundo a compreender que somente Deus pode determinar quanto tempo cada ser humano vai viver, Ele é o autor da vida e a nós cabe proteger e amar nossos bebês durante o tempo que Deus permitir.

Que Deus te abençoe muito!
Com carinho
Joana, mamãe da Vitória (www.amadavitoriadecristo.blogspot.com)